O mundo pós coronavírus segundo o Instituto do Futuro

O mundo pós coronavírus segundo o Instituto do Futuro

Este é um estudo realizado na Alemanha pelo Instituto do Futuro, onde os Futuristas projetam algumas possibilidades após a pandemia do coronavírus.

Para nós que somos profissionais de marketing, é interessante acompanhar estes estudos pois estes profissionais têm acesso a dados que nós nunca teremos. Trabalhar com hipóteses permite que nos preparemos para o futuro.

Este artigo foi traduzido do original(em alemão) pelo Growth Hacker Braulio Medina da comunidade Growth Hackers Brasil.

Boa Leitura!

Como a pandemia mudará a maneira como vivemos e fazemos negócios? O Instituto do Futuro descreve quatro cenários possíveis, mostrando como a crise do Covid-19 pode transformar o mundo.

O vírus Covid-19 abalou as bases de nossa coexistência econômica e social de forma sem precedentes e por tempo indeterminado. Estamos vivenciando um colapso incontrolável da nossa vida cotidiana e do mundo como nós o conhecíamos.

Agora, a primeira coisa que todos precisamos fazer é aprender a lidar com esta situação excepcional, como primeiro passo para superar esta crise.

Porém, a grande pergunta é: o que acontecerá depois?

O Instituto do Futuro está comprometido em observar o futuro, que atualmente parece mais incerto do que nunca.

Uma forma de enxergar o futuro é esboçando de cenários.

Cenários nos mostram o escopo de possibilidades que se abrirão para nós.

Que desdobramentos podemos esperar?

Como o Coronavírus irá mudar nossa cultura, valores, padrões de consumo, enfim, nosso mindset coletivo?

Nós, do Instituto do Futuro, desenvolvemos quatro cenários para descrever o mundo pós-pandemia no médio e longo prazo.

Nas próximas semanas nós continuaremos monitorando estes cenários e compartilharemos nossos insights, com o intuito de trazer um pouco de luz a esta situação caótica e levantar oportunidades que estão se abrindo para você e para todos nós.

Cenários nos ajudam a criar, juntos, um novo futuro, pois tudo que fazemos e decidimos hoje terá efeito nos próximos anos.

Nosso futuro está sendo decidido agora.

SOBRE OS CENÁRIOS

Os quatro cenários para o futuro estão baseados em dois eixos centrais, que descrevem possíveis direções de desenvolvimento:

  1. Relações Bem Sucedidas x Relações Fracassadas
    (Otimismo versus Pessimismo)
  2. Local x Global
    (Desconectado versus Conectado)

Baseado nos quatro possíveis desfechos, os cenários descrevem consequências para a sociedade como um todo. Este estudo tem o intuito de ilustrar as possíveis mudanças e não tem a ambição de ser realista. Entretanto, trata-se de um exercício de criação de orientação futura, abrindo espaço para novos pensamentos e visões.

cenario-coronavirus

Cenário 1 – Isolamento Total: Todos contra todos

Primeiro acontece o shutdown – e depois o shutdown vira uma norma. Passa a ser normal escanear um chip no pulso para entrar no metrô ou entre pessoas, para verificar dados de saúde, no primeiro encontro amoroso, por exemplo.

Também vira norma a necessidade de permissão para deixar o país e, para certos países, a necessidade de visto é constante. O comércio global passa a ser coisa do passado e o comércio entre países visa garantir serviços básicos e nada mais do que isso.

Bem vindo à Sociedade Super Segura. A sociedade está novamente se definindo claramente como uma nação. A segurança só pode ser garantida se as fronteiras de uma zona de segurança estiverem claramente definidas.

Segurança em primeiro lugar. Cada um por si.

O estado usa todos os meios possíveis para proteger seus cidadãos, mesmo que isso signifique evocar os medos mais arraigados ou criar novos medos artificiais ligados a alimentação, por exemplo. As pessoas passam a usar todos os espaços abertos para plantar frutas e vegetais. O escambo e o mercado negro florescem.

De-urbanização: O campo começa a ganhar força. Os que podem saem das grandes cidades para se alimentar e para ganhar dinheiro, vendendo comida para os que vivem nas cidades maiores. A tendência de uma vida solteira, apartamentos cada vez menores e co-habitação, bem como dependência do transporte público e do fluxo global de mercadorias torna a população urbana dependente. Hipsters urbanos
tornam-se uma classe sem estabilidade financeira.

Germofobia, a constante busca por esterilização, aumenta a desconfiança em relação a produtos cujas origens não podem ser identificadas. Frutas e vegetais são desinfetados clinicamente antes do consumo e pesquisas sobre embalagens seguras são feitas a todo vapor.

Importação é restringida por causa do grande medo de germes serem introduzidos por meio de produtos do exterior. Há menos frutas exóticas, porém, muitas podem ser cultivadas em locais que não era possível antes, por causa de mudanças climáticas.

Agricultura e a indústria de manufatura experimentam enorme crescimento, com o advento também do nearshoring (transferência de operações de negócios para países mais próximos).

→ O isolamento, que começou como recomendação para cancelar grandes eventos com mais de 1.000 pessoas, se transforma em um banimento de reuniões com mais de 10 pessoas. A vida cultural pública praticamente é congelada. Shows e eventos esportivos acontecem com o patrocínio do governo, porém, a audiência acompanha do sofá de casa, sem custos.

Uma vez que lugares como cafeterias são evitados, restaurantes viram cozinhas fantasmas, abastecendo seus consumidores com refeições de acordo com os padrões mais altos possíveis de higiene. Nas cidades grandes, o contato social migra para o espaço virtual.

Cenário 2 – Crash do Sistema: Modo de Crise Permanente

O vírus fez o mundo colapsar e ele não consegue se mover adiante. O foco em interesses nacionais chacoalhou massivamente a confiança em cooperação global e um retorno aos hábitos do passado não é mais possível.

O medo de uma nova pandemia torna qualquer espalhamento local do vírus, não importa o quão pequeno, um gatilho para medidas drásticas como o fechamento de fronteiras e a defesa de recursos. A perda da confiança em cooperação internacional com base na solidariedade torna impossível uma estabilidade duradoura. O mundo passa a caminhar de forma tensa em direção ao futuro.

Fricções na ordem mundial multipolar tornam-se frequentes: recriminações mútuas, ameaças agressivas e ações nervosas alternam-se com esforços na direção de abertura e cooperação, visto que existe uma percepção sobretudo de que somos dependentes uns dos outros. Neo-nacionalismo cresce e há um constante estado de tensão.

→ Nearshoring torna-se uma premissa política e ideológica. Ao mesmo tempo, no entanto, a dependência de relações de comércio e fluxo de mercadorias continua. Ambas tendências coexistem lado a lado de forma permanente e abrupta. Glocalização expressa as discrepâncias entre mercados locais e globais, que não podem existir uns sem os outros.

→ Cidades globais tornam-se os lugares mais nervosos do mundo: são nelas onde as tensões entre os fluxos regionais, nacionais e internacionais de dinheiro, serviços e mercadorias são sentidos constantemente.

→ Momento importante para o Big Data. Quanto mais incerteza, mais análises são requisitadas. A coleção e o processamento de grandes quantidades de dados experimenta um crescimento contínuo. O desenvolvimento da inteligência artificial se intensifica, especialmente para a simulação de cenários de crises e controle das mesmas. Consequentemente, o crime cibernético, inclusive realizado por estados, também cresce, com o intuito de enfraquecer concorrentes internacionais.

Internamente, o estado passa a usar tecnologia para o monitoramento: análise preditiva, ou seja, a previsão de comportamento humano com base em dados, torna-se cada vez mais importante em uma sociedade de permanente insegurança.

→ Privacidade declina. A liberdade individual dos dados é restringida e leis de
privacidade e proteção de dados são abolidas, tanto internacional, quanto
nacionalmente.

Dados de saúde tornam-se uma questão central para o estado e população começa a tomar medidas individuais, à medida em que a confiança na provisão de saúde pelo estado tem caído por um longo período de tempo. Mais e mais as pessoas começam a confiar na responsabilidade pessoal por saúde, saúde digital e monitoramento individual contínuo de sinais vitais, gerando dados para os bancos de dados do governo continuamente.

Cenário 3 – Neo-Tribos: A Retirada Para a Esfera Privada

Após a crise do Coronavírus, a sociedade globalizada retorna a estruturas mais locais. Produtos regionais ganham mais valor do que nunca. Pequenas comunidades emergem e se consolidam, sempre se diferenciando cuidadosamente de outras. Sustentabilidade e uma “cultura de nosso povo (We-Culture)” tornam-se valores importantes, porém, sempre pensados localmente, mas não globalmente.

→ As pessoas não confiam mais em entidades do governo ou alianças supranacionais. O abandono de uma comunidade global leva à formação de neo-tribos locais. O sentido de comunidade é buscado em uma escala menor, já que a crise do Covid-19 tornou atrativa para a massa a tendência de pós-individualização.

→ O medo de infecção leva a um confinamento à esfera privada e o redescobrimento dos valores domésticos. Praticamente não há mais grandes eventos, entretanto, há muitas transmissões, já que as pessoas podem participar de mega eventos por meio da realidade virtual, sem ter que deixar seu seguro e confortável lar.

O auxílio de vizinhos torna-se uma prioridade máxima e surgem estruturas fixas para ajudar uns aos outros em casos de crise. Suprimentos são trocados ou compartilhados e atenção é redobrada em relação aos mais velhos e fracos.

As pessoas também migram mais para o campo ou cidades menores e o conceito de província progressiva atinge seu pico.

→ Ao invés de usar transportes públicos, as pessoas passam a usar mais bicicletas ou scooters elétricas. Viagens de longa distância perdem sua atratividade, quando comparadas com visitas a regiões ou países próximos.

A de-turistificação massiva tem o efeito de permitir que regiões inteiras se recuperem do excesso de turismo. Viagens não são mais tão comuns e requerem muitas precauções e planejamento em tempos pós-corona.

→ O fracasso de redes globais de varejo e a desconfiança dos países sobre a origem de mercadorias leva a uma nova regionalização. Mais do que nunca as pessoas compram localmente. A economia compartilhada experimenta crescimento em redes regionais. Técnicas tradicionais de artesanato e trabalhos manuais ressurgem.

Cooperativas e plantações urbanas (urban farming) substituem os padrões capitalistas de consumo e uma economia circular com ecossistemas autônomos emerge nas comunidades.

Conceitos como Cradle to Cradle (C2C, do inglês, berço ao berço, ou seja, criar e reciclar ilimitadamente) e Post-Growth (corrente de pensamento sobre os limites do crescimento com recursos escassos no planeta) estão naturalmente presentes nas vidas das pessoas como práticas que são não somente desejáveis, mas necessárias.

A economia regional funciona de forma completamente autônoma.

→ A crise do coronavírus prova ser um gerador surpreendente de novas tendências de trabalho visando mais Flexicurity (em inglês, significa a junção de flexibilidade e segurança).

A necessidade de flexibilidade no espaço de trabalho transformou permanentemente a forma de trabalhar.

Home office passa a ser uma parte essencial da cultura corporativa e empresas internacionais fazem reuniões em conferências virtuais e contratos passam a ser assinados e armazenados no Blockchain.

Aplicações de saúde digital calculam o risco potencial de reuniões de negócios pessoais com antecedência, sendo que geralmente não serão recomendadas.

Cenário 4 – Adaptação: A Sociedade Resiliente

A sociedade mundial está aprendendo com a crise e desenvolve sistemas adaptativos e resilientes. Correntes sociais profundas na direção de
Post-Growth, We-Culture, Glocalization e Post-Individualization, que já existiam antes da crise, são catapultados do nicho ao mainstream.

→ O vírus corona desencadeou uma auto-purificação dos mercados : uma reflexão coletiva sobre a origem das mercadorias, estimulando novos padrões de consumo . A quebra de cadeias globais de produção leva à redescoberta de alternativas domésticas.

Comércio estacionário, produtos regionais e cadeias de suprimento são impulsionados.

Um meio termo entre o online e offline é encontrado, gerando, acima de tudo, redes globais de varejo mais sábias, com equilíbrio entre comércio local e global e o florescimento de plataformas de comércio diretas.

Feiras semanais, produtores regionais e comércio virtual local crescem fortemente. A posição monopolista de varejistas digitais como Amazon e Alibaba se dissolve, dando origem a muitos players menores, que são menos dependentes das linhas de produção globais e mais
acessíveis localmente.

A sociedade se distancia do consumo de massa e da mentalidade de bens descartáveis, aproximando-se de um sistema econômico mais saudável.

→ O vírus Covid-19 tornou realidade uma nova forma holística de enxergar a saúde, considerando o meio ambiente, a cidade, política e a comunidade global. Todos estes fatores passam a ser importantes para a saúde humana.

A saúde do mundo e a saúde individual começam a ser vistas como uma só coisa.

Este novo mindset vira todo sistema de saúde de cabeça pra baixo: governos, planejadores de cidades e negócios trabalham juntos para criar ecossistemas mais saudáveis para toda população.

Neste contexto, o uso de aplicativos de saúde digital se tornou um padrão para compartilhar dados de saúde em tempo real. Graças à saúde preditiva, questões como a probabilidade de uma epidemia podem ser estimadas com acurácia. Está claro para todos que saúde individual
não pode ser encarada de forma isolada do meio ambiente e da sociedade.

→ Riscos globais requerem players supranacionais, que possam agir de uma maneira conectada e global. A crise do coronavírus criou poder político para agir de forma diferente. Enquanto os estados perderam relevância, as cidades e entidades supranacionais
tornam-se mais importantes.

Acontece uma reorganização no sentido da glocalização: o nível local (cidades, municípios e prefeitos) está diretamente vinculado a organizações globais. Desta maneira, problemas locais podem ser resolvidos de forma rápida e criativa e riscos globais são identificados mais rapidamente e atacados de forma cooperativa.

A partir da pandemia, a humanidade se percebeu mais forte como uma comunidade mundial que precisa resolver os desafios em conjunto. Epidemia ou a crise climática não termina mais na fronteira nacional.

Uma identidade global emerge, embasada em uma mudança fundamental de valores: solidariedade e “We-Culture” , não somente em relação a nossos vizinhos, mas sim internacionalmente.

→ A crise do Coid-19 implicou em lições concretas no tratamento supranacional do big data, análise preditiva e sistemas de alertas. A inteligência artificial é usada de forma mais construtiva, não apenas para conter epidemias quando surgirem, mas também para mitigar
todos os riscos possíveis que possam atravessar fronteiras.

Todos são equipados com aparelhos de monitoramento da saúde , para que a troca de dados em tempo real permita que riscos sejam detectados rapidamente.

O contínuo aprendizado dentro de um multiverso de redes funcionais cria uma resiliência global.

Este novo espírito também dá forma ao cenário midiático. Jornalismo construtivo foca em soluções, ao invés de reverberar alarmismo e fake news, ajudando a manter uma sociedade resiliente e adaptativa, que sabe como lidar de forma produtiva com crises.

Sobre o Instituto do Futuro

O Instituto do Futuro influencia pesquisas sobre tendências e futuro desde sua fundação em 1998. Hoje, a empresa é considerada uma líder
internacional para questões sobre o desenvolvimento de negócios e da sociedade.

A MISSÃO DO INSTITUTO DO FUTURO é identificar e descrever os padrões de mudanças sociais e econômicos. Compartilhamos nossas análises e descobertas em publicações, palestras e eventos e auxiliamos tomadores de decisão com nossos formatos de consultoria.

Sobre Braulio Medina

Matemático, especialista em tecnologias e startups. Growth Marketer brasileiro de maior expressão mundial. Atuou em mais de 30 projetos de Growth (tração e escala de negócios), para Startups e grandes instituições, no Brasil e no exterior.

SUA MISSÃO é acelerar o lançamento e escala de produtos e serviços no mercado, por meio de estratégias de growth hacking, focadas em distribuição e inovação. Auxilia empreendedores, executivos e gestores a navegar na direção de maior crescimento, num mar de incertezas.

Conteúdo original: 4 Cenários Possíveis Para o Mundo Pós-Crise do Corona Vírus
Traduzido por: Braulio Medina

Redação

Redação

Blog voltado para estudantes e profissionais do marketing, design, publicidade e entre outras áreas criativas, levando conteúdo de forma simples.

Deixe o seu comentário! Os comentários não serão disponibilizados publicamente

Otimizado por Lucas Ferraz.